CRIAÇÕES CUÍCA EXPANDIDA

Aqui se encontram os resultados do processo criativo correspondente ao período de realização do projeto Cuíca Expandida. 

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Quando apaga a luz

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A MELÓDICA PERCUSSIVA DA CUÍCA EXPANDIDA

As experiências realizadas durante a execução do projeto Cuíca Expandida foram feitas em grande medida tendo como base teórica o trabalho  Melódica Percussiva, de Luiz D`Anunciação. Publicado em 2008, Melódica Percussiva consiste em um método paradidático que, baseado nos parâmetros da notação musical tradicional, formaliza um sistema notacional destinado a traduzir toda a riqueza de nuances que caracteriza os instrumentos de percussão com som de altura indeterminada, categoria instrumental que o autor explicita ao informar que a percussão se divide em duas grandes famílias de instrumentos musicais:

Em uma, estão aqueles que produzem o som de altura determinada, conforme o paradigma da tonalidade (o xilofone, os tímpanos, o vibrafone, o glockenspiel a baquetas, a marimba e todos os demais que obedeçam ao mesmo processo de afinação). Na outra, estão agrupados os instrumentos que não produzem o som em conformidade com o mesmo princípio de afinação, denominados instrumentos com som de altura indeterminada, que eu chamo instrumentos com entonação tímbrica não alinhada ao sistema da tonalidade (…). Esta segunda família soma o grupo mais numeroso e menos compreendido em sua função na música, congregando uma elástica e heterogênea diversidade de formas físicas, tais como os atabaques, o berimbau, o reco-reco, a cuíca, o camisão, o pandeirão sem soalhas ou tinideira do bumba-meu-boi do Maranhão, a puíta, o triângulo, o tamburo basco, os pratos, o pandeiro estilo brasileiro (pandeiro de samba) e muito mais, todos produzindo som com altura indeterminada e, por esta condição acústica, suas notas musicais não podem e não devem ser identificadas com nomenclaturas do sistema tonal: Ré, Fá, Dó, Sol etc. (D`ANUNCIAÇÃO, 2008, p. 11).

Ainda, nas palavras autor:

Estudando a diversificação de nuances tímbricas decorrente de procedimentos de execução nestes instrumentos, encontrei razões para criar a expressão melódica percussiva, de função análoga ao que se chama melodia no campo tradicional da tonalidade, (…) porque são sucessões de alturas produzidas por nuances sutis, decorrentes do modo de articular o som no instrumento, criando verdadeiros fragmentos escalares (…). Por assim ser, optei pela denominação melódica percussiva porque ela sintetiza particularidades sonoras que identificam as entonações tímbricas dos modos de articular o som nesses instrumentos populares da nossa rítmica, ensejando, através dos símbolos da notação musical, a organização de uma metodologia que norteará a escrita e, consequentemente, a leitura e o aprendizado dessa percussão em condições iguais a de qualquer instrumento (D`ANUNCIAÇÃO, 2008, p. 8).

Hoje, o conceito melódica percussiva é entendido por especialistas como um avanço sem precedentes no estudo dos instrumentos de percussão típicos da música brasileira. Dentre as ideias que compõem este conceito, duas delas se mostraram especialmente úteis e pertinentes ao desenvolvimento do projeto Cuíca Expandida. A expressão “entonações tímbricas”, mencionada nas citações acima, é tomada aqui como uma dessas ideias de importância central, correspondendo à variedade de emissões sonoras decorrentes do processo de extração de sons de toda a estrutura física da cuíca, tanto a partir de sua técnica tradicional de execução, quanto de técnicas não convencionais e também do processamento eletrônico dos sons. A segunda ideia de grande importância consiste no que D`Anunciação (2008) apresenta como “designação nominativa”:

Os instrumentos com som de altura indeterminada requerem nomenclaturas próprias para suas entonações tímbricas decorrentes dos princípios de execução de cada instrumento. São sonoridades conhecidas como: som preso, som solto, toque no aro, toque na borda, tapau, som com o polegar, toque com a mão aberta, dedos, estalo, toque com a base da mão, etc. Estas denominações podem variar devido ao regionalismo, porém, são autênticas, cabíveis e já ratificadas por uma prática convencional do aprendizado intuitivo. Representam a melódica percussiva da gama de instrumentos com uma realidade sonora natural e não devem ter a sua espontaneidade invadida por nomes artificialmente estranhos à sua propriedade. Por isso, é importante e imperativa a consciência de que não cabe para tais entonações tímbricas a adoção das nomenclaturas tonais Mi, Fá, Ré, Lá, etc. (D`AUNICIAÇÃO, 2008, p. 14).

Para o autor, portanto, é imprescindível que a representação dos elementos sonoros gerados por esses instrumentos ocorra dentro de um processo próprio de identidade. Em outras palavras, a designação nominativa estabelece identidade autônoma e específica para cada entonação tímbrica produzida em determinado instrumento, em conformidade com o seu modo de articulação sonora.

Trazendo estas referências conceituais de D`Anunciação (2008) ao contexto do projeto Cuíca Expandida, algumas adaptações se fizeram necessárias. A principal adaptação diz respeito ao fato do autor elaborar suas ideias pensando em diferentes instrumentos musicais (tamborim; surdo; reco-reco; agogô, tarol; ganzá; triângulo; zabumba; caxambu; berimbau; dentre outros), ao passo que o projeto Cuíca Expandida se concentra exclusivamente na cuíca, buscando explorar a potencialidade sonora de todo o objeto em que o instrumento se constitui. Sendo assim, uma das adaptações foi considerar cada componente da estrutura física da cuíca como um “instrumento” individualizado, ou seja, como uma fonte sonora específica, atribuindo, deliberadamente, as seguintes designações nominativas a cada uma delas:

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Visão externa de um modelo de cuíca atual
  • FUSTE – consiste na parte cilíndrica que representa o próprio corpo do instrumento. Em geral, o fuste da cuíca é de metal (aço inox, alumínio ou latão), mas pode ser feito também de outros materiais, como a madeira e o acrílico. Sua função é servir de caixa acústica, amplificando o som e contribuindo na qualidade do timbre.
  • MEMBRANA – consiste em uma pele de origem animal, preferencialmente de caprinos, distendida em uma das extremidades do fuste. A membrana é o componente objetivamente responsável pela emissão dos sons do instrumento.
  • ARQUILHO – consiste em um arco de madeira ou alumínio no qual a membrana é empachada para, então, ser distendida sobre o fuste.
  • HASTE – consiste em uma vareta de bambu, direcionada para o interior do fuste, e fixada no centro da membrana através de um nó. Sua função é servir como elemento fricativo que transmite vibrações para a membrana, fazendo com que esta emita os sons do instrumento.
  • ARO SUPERIOR – consiste em um círculo de metal cuja função é manter a membrana presa ao fuste, bem como comportar as balas que dão fixação aos tirantes.
  • BORDA – consiste na base do fuste, localizada em posição diametralmente oposta ao aro superior.
  • CINTA – consiste em um círculo de metal preso ao fuste, próximo à borda, cuja função é comportar as balas que auxiliam no posicionamento dos tirantes.
  • TIRANTE – consiste em uma haste de metal, ligada pelas pontas ao aro superior e à cinta, por meio das balas. Uma cuíca contém em média oito ou dez tirantes, distribuídos de modo equidistante ao redor do fuste.
  • PARAFUSO – consiste em espirais frisadas em uma das pontas de cada tirante, servindo para o ajuste das porcas no mecanismo de afinação. Sua função é sustentar a pressão que mantém a afinação da membrana.
  • PORCA – consiste em um pequeno objeto de metal, furado ao meio e tendo a parede do furo marcado com frisos em espiral, que se ajustam sobre os espirais do parafuso.
  • BALA – consiste em uma pequena peça de metal, em quantidade equivalente ao número de tirantes, cuja função é manter os tirantes fixos ao aro superior e apoiados na cinta. Sua função também é dar sustentação às porcas enquanto estas sustentam a afinação da membrana.

Outra importante adaptação em relação às referências teóricas de D`Anunciação (2008) refere-se ao fato do autor tratar apenas dos modos de articulação sonora tradicionalmente aplicados a cada instrumento abordado em seu trabalho, considerando também apenas as entonações tímbricas comumente extraídas dos mesmos. Diferente disso, o projeto Cuíca Expandida visa fazer uso tanto da técnica tradicional de execução da cuíca, buscando por sua sonoridade de costume, quanto de técnicas não convencionais, buscando sons incomuns ao instrumento, além do processamento de todos esses sons por meio de equipamentos eletrônicos, resultando numa variedade de modos de articulação sonora que busca ampliar a gama de material disponível para o processo composicional.

TÉCNICA TRADICIONAL DE EXECUÇÃO

A técnica tradicional de execução da cuíca consiste basicamente em duas ações realizadas por cada mão do instrumentista. Uma dessas ações é a fricção da haste em movimentos de vai e vem com o auxílio de um pano umedecido; a outra ação consiste em premir a membrana externamente, exercendo sobre ela diferentes níveis de pressão. A combinação dessas ações gera entonações tímbricas compreendidas em uma tessitura significativamente extensa, que pode ser manipulada de modo a gerar diferentes relações intervalares entre as notas produzidas. Para esta técnica foi atribuída a designação nominativa TRADIÇA.

TÉCNICAS DE EXECUÇÃO NÃO CONVENCIONAIS

Quanto às técnicas de execução não-convencionais, estas consistem em modos de articulação sonora que fogem completamente à normalidade da cuíca. Justamente por se tratar de algo incomum à cuíca, as técnicas de execução não-convencionais resultaram de um processo experimentalcom o objetivo de descobrir e determinar as técnicas cabíveis a cada fonte sonora, visando extrair delas a maior variedade possível de entonações tímbricas.

Tendo em vista que a técnica de execução tradicional da cuíca não envolve a utilização de baquetas, as técnicas de execução não-convencionais foram desenvolvidasà regrada exclusiva utilização de objetos que já façam parte dos procedimentos usuais à cuíca, partindo da possibilidade das próprias mãos do instrumentista exercerem a função de baquetas. Assim, considerando as diferentes partes da anatomia das mãos, bem como sua variedade de ações motoras, foram estabelecidas as seguintes técnicas de execução:

  • CHAPA – mãos com os dedos unidos e em riste, em posição de tapa.
  • UNHA – mãos em posição de garra, com os dedos separados e articulados de modo que apenas as unhas atinjam a fonte sonora.
  • DEDO – mãos em posição semelhante à execução de um piano, articulando os dedos de modo que apenas as pontas atinjam a fonte sonora (sem o contato das unhas).
  • POLEGAR – mãos em posição relaxada, de modo que apenas os polegares atinjam a fonte sonora.

Além da exploração anatômica e motora das mãos para a criação das técnicas de execução não convencionais, outro elemento (já usual no universo da cuíca) que também se mostrou como uma alternativa à função de baqueta foi a chave de afinação, à qual recebeu a designação nominativa CHAVE.

Cabe observar, por fim, que o processo de investigação sobre possíveis técnicas de execução não convencionais continuará buscando por novas alternativas, visando principalmente ampliar a variedade de entonações tímbricas.

REFERÊNCIAS DA WEB

REFERÊNCIAS DA WEB

Aqui encontram-se reunidas referências documentais localizadas na Internet cujo conteúdo tenha alguma relação com o projeto Cuíca Expandida em termos de composição musical e performance artística.

JAM DA SILVA et la cuica

PRD Mais – Baile na Ngoma

Percussão – uma outra visão (Edilson morais)

CARLOS STASI | Desuniões entre o simples e o complexo

Carlos Stasi no Espaço Cultural Dércio Marques

Duo Ello

BERIMBAPHONE by Panda Gianfratti

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

As referências bibliográficas aqui reunidas constituem-se por publicações cujo tema se relacione diretamente à cuíca, ou cujo conteúdo de alguma forma corrobore os propósitos do projeto Cuíca Expandida em nível teórico e conceitual.

ADORNO, Theodor W. Filosofia da nova música. São Paulo: Perspectiva, 1989.

ASSIS, Paulo Dulci de. Mapeamento da Informações Relativas à Cuíca (IRCs) Disponíveis em Fontes Bibliográficas. 2016, 187 f. Dissertação (Mestrado em Música) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Música, Rio de Janeiro, 2016.

ASSIS, Paulo Dulci de. A cuíca na obra e no tempo de Heitor Villa-Lobos. In: Anais I Simpósio Nacional Villa-Lobos: obra, tempo e reflexos. 2015. Disponível em: http://www.festivalvillalobos.com.br/2015/wp-content/uploads/2015/09/11_PauloAssis.pdf

BAPTISTA SIQUEIRA. Estética Musical: ensaio científico. Rio de Janeiro: 1970.

BERENDT, Joachim E. O Jazz: do rag ao rock. São Paulo: Perspectiva, 1975.

__________________. Nada Brahma: a música e o universo da consciência. São Paulo: Cultrix, 1997.

CAGE, John. Silence: lectures and writings. Wesleyan University Press, 2011.

CERVO, Dimitri. O Minimalismo e suas técnicas composicionais. Per Musi-Revista Acadêmica, 2005.

_____________. Minimalismo e Pós-minimalismo: distinções necessárias. DEBATES – Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Música IX, 2014.

COSTA, Rogério. Música Errante: o jogo da improvisação livre. São Paulo: Perspectiva, 2016.

D’ANUNCIAÇÃO, Luiz. Melódica Percussiva: norma de concepção para a escrita dos instrumentos populares brasileiros da percussão com som de altura indeterminada. Rio de Janeiro: Melódica Percussiva, 2008. (Manual de Percussão, v.V., Caderno 1).

DE FREITAS, Emilia Maria Chamone. O gesto musical nos métodos de percussão afro-brasileira. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2008.

DE OLAZÁBAL, Tirso. Acústica musical y organología. Buenos Aires: Ricordi, 1954.

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_____________. Deleuze, música, tempo e forças não sonoras. Artefilosofia 9, 2017, p. 67-76.

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HARNONCOURT, Nikolaus. O discurso dos sons. Rio de Janeiro: Zahar, 1996.

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SÁ, Pedro Paiva Garcia. A Sistematização da Escrita para os Instrumentos Populares Brasileiros com Som de Altura Indeterminada de Luiz D`Anunciação: conceitos e análise de quatro obras. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2009.

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SMETAK, Walter. O retorno ao futuro, ao espírito. Salvador: Associação dos Amigos de Smetak, 1982.

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WISNIK, José Miguel. O Som e o Sentido. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

REFERÊNCIAS FONOGRÁFICAS

As referências fonográficas aqui relacionadas resultam de um processo de investigação com o propósito de conhecer as formas como a cuíca vem sendo historicamente aplicada em arranjos musicais, tanto no contexto do samba quanto de outros gêneros do panorama musical brasileiro e internacional. A seleção das gravações se baseia em critérios que observam, por exemplo, o grau de destaque dado à cuíca no arranjo ou na mixagem do fonograma, a relevância histórica do registro, dentre outras questões que caracterizem o uso do instrumento de algum modo emblemático ou inusitado.

Gravações relevantes sob o ponto de vista histórico; gravações realizadas por cuiqueiros de renome; gravações com evidente destaque para a cuíca; gravações onde a cuíca exerça funções musicais que fogem à sua normalidade.

TÍTULO AUTOR ARTISTA CUÍCA
A cuíca tá roncando Raul Torres Raul Torres Não identificado
A cuíca tá roncando Raul Torres Mário Gennari Filho Ministrinho (?)
Águas de março Tom Jobim Trio Mocotó Fritz Escovão
Andaraí-ê Arnô Canergal;  Donga Não identificado Ministrinho
Banana bananeiro Jorge Ben Jorge Ben;        Trio Mocotó Fritz Escovão
Bateria e solo de percussão Não identificado Monsueto Não identificado
Cozinha Osvaldinho da Cuíca Osvaldinho da Cuíca Osvaldinho da Cuíca
Cuíca Não identificado Luciano Perrone Mestre Marçal
Cuíca Rosinha de Valença Rosinha de Valença Zeca da Cuíca
Cuíca manhosa Osvaldinho da Cuíca Osvaldinho da Cuíca Osvaldinho da Cuíca
Cuíca no samba de uma nota só Não identificado Mocidade Independente de Padre Miguel Não identificado
Cuíca, pandeiro, tamborim… Custódio Mesquita Carmem Miranda Não identificado
Cuícas loucas Nilo Sergio Luciano Perrone Mestre Marçal; Mnistrinho
Deixa a fumaça entrar Martinho da Vila; Beto Sem Braço Samba Som Sete Ailton
Dois sem vergonha Paulo Moura; Wagner Tiso Paulo Moura Mestre Marçal; Zeca da Cuíca
Ela Entrava Edu Krieger Edu Krieger Fabiano Salek
Era meia noite Getúlio Marinho Moreira da Silva Não identificado
Fala Pedro Ataulfo Alves Ataulfo Alves Boca de Ouro
Flamengo Bonfiglio de Oliveira Xixa e seu conjunto Boca de ouro
Gotas de chuva na minha cuíca (Raindrops keep falling head) Hal David; Burt Bacharach Trio Mocotó Fritz Escovão
Iaiá, ioiô e a cuíca Fausto Vasconcelos; Felisberto Martins J. B. de Carvalho; Nena Robledo Não identificado
Lá vem cuíca Vicente Barreto; Tom zé Tom Zé Osvaldinho da Cuíca
Minha cuíca Chocolate Chocolate Chocolate
Minha embaixada chegou Assis Valente Nara Leão; Maria Bethânia Ministrinho
Muito a vontade Não identificado Brasil Ritmo Neném da Cuíca
Não vou chorar Maruim; Oscar Moss) Jackson do Pandeiro Ministrinho
O criolonauta Ivan Lins; Ronaldo Monteiro de Souza Trio Mocotó Fritz Escovão
O ronco da cuíca João Bosco; Aldir Blanc João Bosco Zeca da Cuíca
O sorriso de Narinha Erasmo Carlos; Roberto Carlos Trio Mocotó Fritz Escovão
Partido alto Não identificado Não identificado Mestre Marçal
Pensando bem Martinho da Vila; João de Aquino Ovídio Brito Ovídio Brito
Ritmo Não identificado Nelsinho e sua orquestra
Samba em Berlim Sebastião Tapajós Sebastião Tapajós Mestre Marçal
Samba quente Não identificado Luciano Perrone Boca de Ouro
Sei lá Mangueira Hermínio Bello de Carvalho; Paulinho da Viola Odete Amaral Não identificado
Tem brabo no samba Não identificado Brasiliana Boca de Ouro
Tema do Zeca da Cuíca Rosinha de Valença Rosinha de Valença Zeca da Cuíca
Tentação Casemiro Vieira Velha-Guarda da Portela Casemiro Vieira
Todo mundo numa boa Não identificado Brasil Ritmo Neném da cuíca
Vem cá Mutinho Trio Mocotó Fritz Escovão

Gravações originalmente registradas em trabalhos de artistas brasileiros ou estrangeiros que não se vinculam diretamente ao samba, mas incorporam este gênero musical ao seu trabalho e, neste contexto, fazem uso da cuíca.

TÍTULO AUTOR ARTISTA CUÍCA
A voz do morto Caetano Veloso Caetano Velo; Os Mutantes Não identificado
Alvorada Carlos Cachaça; Carloa; Hermínio Bello de Carvalho Zizi Possi Marcos Suzano
Aquela valsa Hermeto Pascoal Hermeto Pascoal Não identificado
Brazilian sugar George Duke Steven Kroon Steven Kroon
Conversa fiada Marinho Banda Mel Osvaldinho da Cuíca
Dança das cabeças Egberto Gismonti Egberto Gismonti; Naná Vasconcelos Naná Vasconcelos
Egotrip Antonio Pedro; Evandro Mesquita; Patrícia Travassos; Ricardo Barreto Blitz Marçalzinho
Escrúpulo Lenine; Lula Queiroga Lenine; Marcos Suzano Marcos Suzano
Margarida perfumada Não identificado Timbalada Não identificado
Mi vida Jon Lucien Jon Lucien Não identificado
No batucar do samba Pepeu Gomes Pepeu Gomes Milton Cobrinha
Riacho Guem Guem Théo da Cuíca
Ritmo number one Paulinho da Costa Paulinho da Costa Paulinho da Costa
Rocking with mocotó Dizzy Gillespie Dizzy Gisllespie; Trio Mocotó Fritz Escovão
Samba de ousadia Djalma Corrêa Djalma Corrêa Djalma Corrêa
Satisfaction Mick Jagger; Keith Richards Lee Jackson Osvaldinho da Cuíca
Vá cuidar de sua vida Geraldo Filme Itamar Assumpção Osvaldinho da Cuíca
Voltei pro morro Vicente Paiva; Luiz Peixoto Maria Bethânia Não identificado
What`d I say Ray Charles Lee Jackson Osvaldinho da Cuíca

Gravações originalmente registradas em trabalhos de artistas brasileiros ou estrangeiros que utilizam a cuíca em arranjos musicais completamente alheios ao samba.

TÍTULO AUTOR ARTISTA CUÍCA
Ago Jam da Silva Jam da Silva Jam da Silva
Alphabet street Prince Prince Não identificado
Bird of beauty Steve Wonder Steve Wonder Bobbye Hall
Brettino’s bounce Larry Fratangelo Funkadelic Não identificado
Candelárias – Uma abertura trágica Rubens Ricciardi Orquestra não identificada Felipe de Angola
Carimbó Schlachthofbronx Schlachthofbronx Sample
Carnaval de l’esprit Gary Bartz Gary Bartz Não identificado
Choros n.6 Heitor Villa Lobos Orquestra Sinfônica de São Paulo Não identificado
Dindi Tom Jobim; Aloysio de Oliveira Wayne Shorter Airto Moreira
Do it till the fluid gets hot Não identificado Breakwater Não identificado
Don`t Jerry Leiber; Mike Stoller Seu Jorge Não identificado
Fingers – El Rada Rubén Rada; Eduardo Uzeta Airto Moreira Airto Moreira
In the light of the miracle Arthur Russell Arthur Russell Não identificado
Melô da cuíca Alex Malheiros; J. R. Bertrami Azimüth Théo da Cuíca
Pagode polaco vinheta Cacá Machado Cacá Machado Não identificado
Samba makossa Chico Science Nação Zumbi Não identificado
Shim sham shimmy on the St. Louis blues W. C. Handy Dizzy Gillespie Paulinho da Costa
Sivad Miles Davis Miles Davis Airto Moreira
Walkabout Anthony Kiedis; Flea; Dave Navarro; Chad Smith Red Hot Chili Peppers Lenny Castro
Wanna be startin somethin Michael Jackson Michael Jackson Paulinho da Costa
Work it out Não identificado Breakwater Não identificado

 

PROCESSAMENTO ELETRÔNICO DOS SONS

O processamento eletrônico dos sons, terceira e última linha de ação no desenvolvimento do projeto Cuíca Expandida, envolve a utilização de microfones para a captação dos sons e de processadores multi-efeitos para a sua manipulação. As experiências de captação com diferentes modelos de microfones mostraram que as características dos sons extraídos da cuíca variam consideravelmente em função do grau de sensibilidade de cada microfone, bem como em função de determinados procedimentos operacionais,como o posicionamento e a distância do microfone em relação ao instrumento. Por sua vez, as experiências de manipulação dos sons por meio de processadores multi-efeitos demonstram que as possibilidades de re-caracterização de um determinado som em formas e aspectos estéticos absolutamente distintos da sua manifestação original são, pode-se dizer, infinitas. Os registros a seguir exemplificam o processamento eletrônico dos sons extraídos da cuíca tanto através da técnica tradicional de execução, quanto das técnicas de execução não convencionais.

 

TÉCNICAS DE EXECUÇÃO NÃO CONVENCIONAIS

As técnicas de execução não convencionais aqui desenvolvidas buscam explorar a potencialidade sonora de todo o objeto em que a cuíca se constitui. O processo de experimentação, neste caso, mostrou que a variedade de entonações tímbricas possíveis de serem extraídas dos diferentes componentes da estrutura física da cuíca está diretamente ligada a dois fatores: o objeto de toque utilizado para atingir o instrumento; e o modo de articulação em que o toque sobre o instrumento efetivamente ocorre.Tais técnicas foram então criadas utilizando-se apenas objetos de toque que já fazem parte dos procedimentos usuais relativos à cuíca, utilizando, por exemplo,a chave de afinação como “baqueta”. O modo de articulação, por sua vez, se divide entre toque percutido etoque raspado.

Assim, pode-se dizer que as técnicas de execução não convencionaisse assemelham a técnicas de execução comuns a outros instrumentos musicais, fazendo com que a cuíca incorpore características, por exemplo, de membranofones percutidos (como o tan-tan e o repique de mão), e também de idiofones raspados (como o reco-reco e o prato-e-faca), tanto do ponto de vista operacional, quanto das entonações tímbricas originalmente produzidas com estes instrumentos musicais. Os registros a seguir demonstram a aplicação das técnicas de execução não convencionais, exemplificando as entonações tímbricas possíveis de serem extraídas de diferentes componentes da estrutura física da cuíca.

VÍDEOS

TÉCNICA TRADICIONAL DE EXECUÇÃO

A técnica tradicional de execução possibilita extrair da cuíca entonações tímbricas compreendidas em uma “tessitura” significativamente extensa, que pode ser manipulada de modo a gerar diferentes relações de altura entre os sons produzidos. A relação que mais se costuma utilizar, genericamente falando, é o padrão “grave/agudo”. Contudo, para além deste padrão, é possível explorar fragmentos escalares entre a parcial mais grave e a parcial mais aguda. No exemplo a seguir os primeiros dezoito segundos registram o padrão “grave/agudo” em uma articulação rítmica muito comum em gravações de samba; nos vinte e cinco segundos finais, pode-se notar a execução de fragmentos escalares entre as parciais mais grave e mais aguda.

VÍDEO

A cuíca utilizada neste exemplo, por ter seu fuste fabricado em acrílico transparente, possibilita a visualização das duas ações básicas envolvidas na técnica tradicional de execução do instrumento. Uma dessas ações é a fricção da haste em movimentos de vai e vem com o auxílio de um pano umedecido; a outra ação consiste em pressionar a membrana externamente, exercendo sobre ela diferentes níveis de pressão.